O palhaço da casa Nº 9 - Resumindo Geek

O palhaço da casa Nº 9


1
- Fale a verdade, você não tem nada a perder meu jovem. Disse o policial Antunes.
- Eu já falei! Era um palhaço, um maldito palhaço! Sei que parece loucura, mas eu vi com meus próprios olhos o momento em que a garota foi arrastada para dentro daquela casa!
Antunes pensou, tentou construir o quebra-cabeça do crime que havia abalado a cidade de Ponta Grossa, mas não conseguiu.
- Você tem certeza disso rapaz? Perguntou o policial.
- Sim. Respondeu Augusto.


Fora Augusto que chamará a policia, ele estava passando de carro pela Rua Cesário Alvim quando ouviu o grito da menina. Resolveu parar e ver o que acontecia, desceu do carro e encontrou a origem do grito.
O que Augusto viu foi assustador, em frente a uma velha casa, uma pequena garota era arrastada pelos cabelos, seu corpo de debatia no chão e era levado para dentro da estranha residencia. Quem lhe puxava era um sinistro homem que usava calças azuis, um macacão verde, com uma maquiagem sinistra cara. De longe Augusto não entendeu o que o homem era e foi só quando tomou coragem e partiu para ajudar a garota que sua visão melhorou. Sua mente deu um nó quando percebeu que o maníaco usava as vestes de um palhaço.
O rapaz viu que o estranho palhaço sorria com os seus dentes amarelados. Na face a tinta do rosto borrada quem sabe pelo sol que fazia naquele momento, escorria como sangue. O Palhaço não fazia nada além de arrastar a menina, que enquanto isso gritava por ajuda.
Augusto correu, mas antes que chegasse ao portão da velha casa o palhaço já havia levado a menina para dentro e trancado a porta. O rapaz socou a porta, queria salvar a garota, mas não havia como entrar por ali. Desesperado pegou o celular e ligou para a policia, nesse tempo tentou entrar por uma das janelas, mas não conseguiu, todas estavam trancadas e a casa do lado dentro estava escura.
Sem saber mais o que fazer, Augusto gritou, achou que os vizinhos poderiam ouvir, mas parecia que não morava ninguém a não ser o macabro palhaço naquela velha rua.
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2
Demorou dez minutos para a polícia chegar e conseguir arrombar a porta, nesse tempo os gritos da menina cessaram. Quando as autoridades invadiram a residência, Augusto foi junto.
A casa do lado de dentro estava totalmente destruída, não havia quase nada, parecia que o lugar fora a muito tempo abandonado.
Olharam no primeiro cômodo e não acharam nada, nem no segundo e no terceiro. Foi só quando entraram em uma espécie de porão que encontraram o que procuravam.
No meio de madeiras podres e muita sujeira, estava o corpo da menina. Torto, pois os braços e pernas haviam sido quebrados, assim como uma parte da cabeça que parecia estar comida.
A cena era horrível, um dos policias precisou se afastar para não vomitar. Augusto não acreditava naquilo tudo. Se tivesse sido um pouco mais rápido teria salvado a garota.
Então a polícia procurou pelo assassino, mas no restante do porão não havia mais ninguém. As autoridades fizeram buscas na região e depois de três dias procurando e fazendo perguntas aos vizinhos próximos, acabaram desistindo. O crime parecia não ter solução e a identidade da garota também não foi descoberta, ninguém foi identificar o corpo, mesmo depois de a mídia ter espalhado a noticia. No fim das contas a garota foi enterrada como indigente.
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3
Depois de comparecer dois dias seguidos na delegacia de policia, Augusto foi liberado, mas tudo que passara acabara traumatizando o rapaz. O jovem queria esquecer-se de tudo, mas não conseguia, nos dias seguintes não dormiu, pois sempre que fechava os olhos a imagem do medonho palhaço ganhava espaço em sua imaginação.
Ele via o monstro devorando uma criança viva e para completar o pesadelo, o rapaz percebia que o garoto devorado era ele mesmo quando criança.
Uma semana depois do acontecido, depois de ter tentado ajudar a policia e de ser atormentado todas as noites por pesadelos com o terrível assassino, Augusto acordou decidido a entender o misterioso crime. A primeira coisa que fez foi visitar a rua novamente, as respostas só podiam estar lá.
Pegou seu carro e foi até o local onde tudo havia acontecido. Dessa vez Augusto prestou mais atenção e notou que aquela rua era a menos movimentada do bairro de Olarias. Conseguiu contar quatro casas apenas e então a rua acabava. O caminho seguia só para os lados.
A última casa da rua era a casa número nove. Fora lá que a pequena garota havia sido morta. O homem desceu de seu carro e bateu palmas em uma das casas que havia ao lado da n° 9, insistiu, mas ninguém atendeu. Então passou para o outro lado da rua e tentou outra casa, novamente nada. Parecia que o lugar era deserto.
Sem desistir Augusto tentou comunicação em outra casa, a que ficava mais distante da casa do palhaço. Bateu palmas e enfim alguém apareceu.
Quem saiu na porta da residência que estava com o N°6 rabiscado próximo a uma janela, foi uma senhora que aparentava ter mais de 60 anos.
- O que gostaria meu filho?
- Bom, eu queria fazer umas perguntas. Falou seriamente Augusto.
- Desculpe-me, mas eu não posso comprar nada. Falou a velha mulher com um tom educado.
- Não se trata de comprar, senhora, é sobre o assassinato que ocorreu aqui na rua semana passada. Explicou o homem.
- Você é da policia? Eu já disse tudo que sei e vocês não acreditaram, por que querem que eu repita de novo? A senhora estava sorrindo.
Augusto não compreendeu, a mulher morava ali perto, como a policia não acreditaria em suas palavras. Mas pensando bem, Augusto havia visto tudo e comunicado a policia e mesmo assim nenhuma das autoridades acreditou que quem matara a menina usava uma roupa de palhaço.
O rapaz acabou raciocinando demais e foi surpreendido pela voz da velha.
- Vamos rapaz eu não tenho o dia todo, você é da policia? Disse a senhora quebrando os devaneios de Augusto.
- Sim, eu sou. Mentiu Augusto e continuou. – Gostaríamos de ouvir seu relato apenas mais uma vez senhora, seria possível?
A mulher afirmou com a cabeça e caminhou até o portão, depois convidou augusto para entrar.
- Qual é o seu nome filho? Perguntou a mulher.
- Augusto, oficial Augusto. Falou o jovem sem jeito.
- Tudo bem… Augusto, eu sou Maria de Lurdes, mas me chame apenas de Maria, venha comigo, vamos conversar na sala.
Os dois entraram, Augusto viu que a mulher morava em uma casa muito simples e que aparentemente sua única companhia era um gato cinza que se encontrava dormindo logo na porta de entrada.
Maria mostrou uma cadeira para Augusto e o rapaz sentou-se, foi então que a mulher lhe contou toda a história que sabia.
- Você acredita em lendas Augusto? Maldições ou espíritos? Questionou a mulher.
Augusto sentiu-se desconfortável, aquela pergunta lhe assustara um pouco.
- Acho que sim. Respondeu o falso policial.
- Que bom, pois essa morte que acabou abalando a cidade está ligada a uma maldição, um causo que no passado foi verdade e depois passou a ser uma lenda… Hoje ela já foi esquecida.
- Continue senhora, por favor. Pediu Augusto. E assim, Maria contou tudo o que sabia.
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4
Maria perguntou a Augusto se ela havia notado como a Rua Cesário Alvim era vazia naquela região e explicou que o motivo disso era por que as pessoas não tinham muita coragem de morar por ali. Diziam que aquela parte da rua continha uma energia negativa.
A mulher explicou que ainda morava ali, pois nascera naquele local e que nem sempre a rua fora deserta e assustadora como era agora. Contou que viu nascer a lenda que acabou com a vida da garota e que o início de tudo isso havia acontecido quando ela ainda era uma moça.
- Foi em 1965. Disse Maria de Lurdes. – Um dia, a rua ganhou um novo morador, um homem que dizia ter vindo de Curitiba, da capital. Esse homem veio morar na casa N° 9 e sua profissão era vender algodão-doce.
Augusto escutava tudo atentamente, procurando fazer ligações com o crime que havia presenciado.
- Esse homem se chamava Marcio, se não me falha a memória. Ele vendia seus doces vestido de palhaço. Mas Marcio só morou durante seis meses aqui, pois depois de um tempo, nós moradores descobrimos algo terrível. O homem era um pedófilo e oferecia doces de graça para algumas crianças em troca de caricias. Isso durou até o dia em que um dos meninos contou a história para o pai, então fizemos uma armadilha e conseguimos pegar o louco no flagra.
- Compreendo. Disse Augusto, ele estava hipnotizado pela narrativa de Maria de Lurdes.
- Mas naquela época meu filho, de nada adiantava nós chamarmos a policia como é feito nos dias de hoje. Isso se misturou com a raiva que todos estavam do novo morador e o resultado foi justiça com as próprias mãos! Alguns homens se juntaram e espancaram Marcio até a morte e para completar enterraram o corpo dele nos fundos daquele terreno da casa nove. O tempo passou e as coisas foram esquecidas, mas depois de alguns anos, quando ninguém mais se lembrava do acontecimento, coisas estranhas começaram a acontecer.
- Tipo o que? Perguntou Augusto.
- Mortes senhor policial, mortes. O tempo correu, e então todo ano, no dia em que nós moradores havíamos acabado com a vida do maldito palhaço, uma criança sumia.
Maria continuou:
- As pessoas ficaram assustadas, algumas diziam que naquela data, dia 19 de outubro, viam o palhaço andando pelas ruas, vendendo seus doces. Com o tempo os moradores começaram a deixar as crianças dentro de casa, sempre que chegava o dia do aniversario de morte de Marcio. Mais anos se passaram, e as pessoas começaram a transformar a realidade em lenda, assim como ignorar o desaparecimento de uma criança por ano, afinal são tantas que se perdem todos os dias? Não é verdade meu filho?
Desde tudo isso mais de quarenta anos se passaram, as pessoas agora tem medo da casa nove e medo da rua. Só eu sobrei, eu e o palhaço, que aparece uma vez por ano apenas para se vingar, para se alimentar e depois voltar para o mundo dos mortos. Acredita nisso policial? Concluiu Maria, perguntando.
Augusto não sabia o que responder, apenas agradeceu a mulher pelo relato e disse que aquilo havia sido de extrema importância. Maria não sabia que Augusto não era um policial, mas sabia que o relato dela não mudaria nada, não havia o que ser feito.
- Quem era a garota que morreu dessa vez? Perguntou Augusto antes de sair da casa da velha.
- Não tenho a mínima ideia, as vezes acho que ele fica um dia inteiro aqui e que vai buscar suas vítimas em outros lugares, hoje em dia é fácil ver aqui na cidade palhaços vendendo algodão-doce. Respondeu Maria rindo.
- Obrigado. Finalizou Augusto e se afastou da casa, indo em direção ao seu carro. O rapaz ainda chegou a escutar a velha dizendo.
- Fique com Deus garoto.
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5
Entrou no carro e pensou em tudo que ouvira. No fim das contas acabara ficando ainda mais com medo. Ligou o carro e passou na frente da casa N° 9 mais uma vez. Antes que fizesse a curva olhou para a velha casa e por segundos viu na janela, dezenas de crianças lhe encarando. Não tinham olhos e sim buracos negros que as deixavam com uma expressão totalmente sem vida.
Entre as crianças Augusto viu a menina que quase salvara, ela parecia lhe encarar. A garotinha comia um grande algodão-doce amarelo e atrás dela, reinando sob todos os pequenos, estava o palhaço. Feliz, sorridente.
Tudo foi muito rápido, Augusto não acreditou no que viu, esfregou os olhos e quando olhou de novo, a casa estava escura, aparentemente vazia. Acelerou seu Celta e partiu, não voltou mais naquela rua, mas também nunca mais se esqueceu dela.
Quando a noite chegava o homem sempre se lembrava das crianças sem vida lhe encarando e do maldito palhaço da casa N° 9.

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